Menos “cara de hospital”
A humanização do ambiente hospitalar ajuda para que o paciente “se sinta em casa! e pode ser bom também para os profissionais.
Alguns estudos comprovam que projetos arquitetônicos humanizados ajudam no bem-estar dos pacientes. A qualidade da luz, da cor, da acústica, a aplicação de materiais fáceis de limpar e bonitos ajudam na diminuição do estresse nos ambientes de saúde. Por conta dos resultados benéficos provenientes da arquitetura para a recuperação dos pacientes e da melhoria da qualidade do trabalho dos profissionais da saúde, muitos hospitais estão investindo nisso.
O arquiteto tem um grande desafio quando pensa na humanização dos espaços das unidades hospitalares, pois, para cada ambiente, é necessário atender as condições distintas, pensando no benefício tanto dos profissionais da saúde como dos pacientes atendidos. Assim, como na necessidade de alguns equipamentos usados nos tratamentos.
A arquitetura pode ser um instrumento terapêutico, á medida que contribui para o bem-estar físico do paciente, com criação de espaços que comportem os avanços tecnológicos necessários para o tratamento, mas que possam ser aprazíveis para o convívio humano.
Os arquitetos Giovani Andrade e Andreína Fernandes (360 Arquitetura) lembram que ao se desenvolver um projeto de arquitetura, seja qual for o uso que será dado ao espaço, é necessário fazer um levantamento de todas as necessidades, atentando-se à funcionalidade e estética do ambiente. “Contudo, quando se trata de um ambiente hospitalar, algumas peculiaridades se fazem presentes devido ao uso bem específico, desde a manipulação de medicamentos pelo corpo médico, até o usufruto e estado dos pacientes”, disse Giovani.
Andreína lembra que espaços destinados à saúde requerem preocupações técnicas bem rígidas e específicas, como os cuidados com a assepsia, por exemplo. “Áreas de possível contaminação, como as bancadas de manipulação de medicamentos, devem ser projetadas com materiais antibacterianos e de fácil limpeza. De uma maneira geral, todos os materiais agregados ao projeto precisamos ser analisados em relação à sua resistência, higienização e manutenção, devido ao grande fluxo de pessoas que o utilizarão. Os estofados das poltronas em couro sintético, as cortinas em tecido sintético lavável, o piso em laminado vinílico, tudo deve ser determinado em função do uso e das especificações da vigilância sanitária”, disse.
Ambiência em saúde
A arquiteta Thabata Paiva, fez o curso de Formação de Apoiadores Temáticos em Ambiência na Saúde, proposto pela Política Nacional de Humanização (PNH), do Ministério da Saúde. “O objetivo do curso foi discutir ambiência, para instrumentalizar os profissionais a análise e elaboração de projetos arquitetônicos e para orientação das intervenções nos espaços físicos de edificações hospitalares”, disse.
Ela explicou ainda que foi usado o termo “ambiência” porque “humanização na saúde” é visualizada de forma mais ampla. “Humanização se trata de fatores ético-estéticos e políticos, que envolve atitudes de usuários, gestores e profissionais da saúde, com o intuito de promover saúde e não apenas tratar a doença”, explicou.
Thabata citou o autor Oscar Corbella, quando ele afirma que uma pessoa está confortável em um ambiente quando se sente em neutralidade em relação a ele. “No caso dos edifícios hospitalares, a arquitetura pode ser um instrumento terapêutico se contribuir para o bem-estar físico do paciente com a criação de espaços que, além de acompanharem os avanços da tecnologia, desenvolvam condições de convívio mais humanas”, disse.
Ela disse ainda que a humanização na arquitetura hospitalar faz parte do processo de produção da saúde. “Um ambiente deve inspirar confiança ao paciente proporcionando melhores condições de recuperação, além de propor aos funcionários uma situação mais confortável, que resulte em produtividade e satisfação”, lembrou.
O início
De forma tímida e não conceituada, há registros antigos de muitas arquiteturas humanizadas no ambiente hospitalar. Mas esse assunto foi destacado de forma mais direta nos Programas no Campo da Saúde Pública. Em 2003, foi lançada a Política Nacional de Humanização. Porém anos antes o Ministério da Saúde já havia lançado alguns programas voltados a esse conceito de “humanizar”. Por exemplo, o Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares (PNASH), em 1999, e o Programa Centros Colaboradores para a Qualidade e Assistência Hospitalar, em 2000. Programas que já utilizavam o conceito de humanização da edificação como um fator de produção da saúde”, explicou Thabata.
Oncologia
Para construir um conceito do projeto, era importante ver um local humano, que contribuísse para a diminuição das tensões e sofrimentos do paciente. “Foi assim que começamos a construir o conceito deste espaço de modo que o mesmo causasse uma repercussão positiva sobre o usuário, trazendo sensações de bem-estar que comprovadamente auxiliam na aceitação do tratamento médico e influenciam diretamente nos seus resultados. Sabemos que há uma tendência atual de se buscar a humanização do ambiente hospitalar para gerar essas sensações de conforto. Essas sensações liberam substâncias no cérebro que ajudam na recuperação, baixando a tensão e elevando o ânimo dos pacientes”, afirmou Giovani.
A intenção é fazer com que o paciente, ao frequentar o setor de Oncologia, por mais que esteja numa situação de tratamento, possa “sentir-se em casa”, sentir-se acolhido no local que se propõe a trazer a sua cura, não mais sofrimento. “Arquitetura tem uma característica muito peculiar que é a capacidade de transformar espaços, influenciando nas sensações das pessoas. Recursos de cenário como iluminação, painéis com imagens, aliados a determinados materiais que vão evoluindo com a tecnologia, são capazes de modificar o ambiente hospitalar tornando-o mais acolhedor ou até mesmo divertido, dependendo da proposta”, lembrou Giovani.
Fugindo das cores de um hospital
Para elaborar um projeto, busca-se sair do ambiente verde/branco/azul, comum aos espaços de saúde. “Sabe-se que tais cores remetem a limpeza e têm a intenção de ‘acalmar’ o paciente. Mas, ao mesmo tempo tornam o ambiente frio, impessoal, ás vezes até aterrorizador, por já ter se firmado na mente das pessoas como local de sofrimento. Sempre buscamos passar a imagem de que as pessoas envolvidas, médicos, enfermeiros, etc, estão ali para cuidar do paciente, que o ambiente preparado estará acolhendo com o mesmo cuidado que o paciente estaria recebendo em sua própria casa”, lembrou Andreína.
Busca pelo Belo
Giovani disse que é natural que o ser humano busque pelo belo. “As pessoas se sentem mais à vontade em locais que admiram, que sentem prazer em frequentar. O desafio nesse caso, foi criar um espaço que fosse bonito, mas ao mesmo tempo acessível. Que não fosse apenas uma beleza platônica, um universo do qual o paciente não se sente parte, apenas observa. A ideia é que o paciente não somente admire o espaço, mas participe dele, utilizando-o em toda sua plenitude”, afirmou.
A recepção pode ter sofás e poltronas confortáveis remetendo a uma sala de estar. Textura de madeira deve ser aplicada em muitos locais para aumentar a sensação de acolhimento. “É importante ressaltar sempre a necessidade de uma fácil manutenção e limpeza, como painéis de MDF com revestimento melamínico simulando a madeira”, explicou.
Na Ala adulta, deve ser criado uma atmosfera de tranquilidade, com elementos que remetam a um spa, local de relaxamento. “É importante que o paciente vá fazer o tratamento sem o peso de estar indo para um local de sofrimento, mas para um local que vai lhe trazer melhoria de vida. O jardim vertical, as texturas com referência a elementos rústicos em tom de concreto e madeira, a possibilidade de criar um ambiente de penumbra em cada cabine através de um projeto luminotécnico versátil, a escolha das cortinas, tudo converge para essa atmosfera acolhedora.
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